Top Ad unit 728 × 90

CrĂ´nicas

CrĂ´nicas
teste

A flor que nunca me deram


Aninha espiava pelo canto da janela escondida atrĂ¡s da cortina do seu quarto o movimento das pessoas que passavam em frente a sua casa. Tinha em si a angĂºstia da expectativa. O relĂ³gio antigo pendurado na parede contava os segundos feito horas, e as horas entĂ£o? Pareciam dias!

Aquele nĂ£o era um dia qualquer, o sol que agora começara a entrar por entre as cortinas, iluminava o vestido que havia separado de vĂ©spera e delicadamente repousava na cama ao seu lado. Sentia fome, mas se alimentava da espera, nĂ£o queria perder aquele momento tĂ£o aguardado.

O cheiro sedutor do cafĂ© matinal entrava por debaixo da porta e o convite amĂ¡vel da sua mĂ£e a levou de sĂºbito a descer as escadas em direĂ§Ă£o Ă  cozinha, resgatar aquela xĂ­cara de cafĂ© jĂ¡ posta sobre a mesa, agarrar uma fatia de bolo e voltar correndo para sua vigĂ­lia, para sua janela. Agora faltava pouco!

Espichava os olhos atĂ© os limites da esquina esperando aquele momento acontecer, esperava aquela bicicleta contornar a esquina da sua casa carregando a resposta para as suas dĂºvidas, trazendo o alĂ­vio Ă  angĂºstia acumulada pelo peso das horas.

Alguns minutos depois, aquela tĂ£o esperada bicicleta contornava a esquina de sua casa, acelerando a batida do seu coraĂ§Ă£o a cada metro que se aproximava da sua casa. Uma rĂ¡pida mordida na fatia de bolo, um pulo sobre a cama, Aninha desce as escadas passa rapidamente pelos olhos atentos da sua mĂ£e em direĂ§Ă£o Ă  porta da rua que revelaria enfim a sua espera. Lentamente coloca a mĂ£o na maçaneta da porta abrindo com toda delicadeza, mas apenas alguns centĂ­metros, o suficiente para saciar sua afliĂ§Ă£o.

O mensageiro trazia o buquĂª de rosas mais lindo que jĂ¡ tinha visto, arrancando-lhe um sorriso discreto, suficiente para encher suas expectativas de sonhos. Ele toca a campainha! “Por que de tanta demora? Abre logo essa porta!” – fala baixinho. O Mensageiro deixa as rosas na soleira da porta e vai embora. Aninha fecha a porta com pesar, mais uma vez ela nĂ£o recebera as flores. O relĂ³gio parecia estar contra ela, apressada pela mĂ£e que a avisa que chegarĂ£o atrasadas na escola. Pede que suba rapidamente, coloque seu vestido e a encontre no carro. “Vamos mocinha, nĂ£o quer chegar atrasada na escola no dia do seu aniversĂ¡rio? Quer?”

- Por que serĂ¡ que ela nunca aceita as flores? – pergunta Aninha cabisbaixa.
- NĂ£o sei minha filha, o perdĂ£o nĂ£o Ă© algo tĂ£o simples de se conceder.
- NĂ£o entendo porque ela as joga no lixo e nem lĂª o cartĂ£o.
- Talvez por nĂ£o querer mais essa relaĂ§Ă£o.
- Sabe o que eu acho mĂ£e?
- NĂ£o, o que minha filha?
- Eu nĂ£o gostaria que um estranho em uma bicicleta entregasse meu presente de aniversĂ¡rio.

Espiava pelo canto da janela escondida atrĂ¡s da cortina da sala o movimento das pessoas que passavam em frente a sua casa, tinha em si a angĂºstia da solidĂ£o. O relĂ³gio na estante junto ao porta retrato contava os segundos feito horas, e as horas entĂ£o? Pareciam dias!

Lentamente coloca a mĂ£o na maçaneta da porta abrindo com toda delicadeza, se abaixa pega o buquĂª de rosas e abraçando-o caminha atĂ© a lata de lixo, nĂ£o hĂ¡ ninguĂ©m na rua, retira apenas uma rosa do buquĂª, arrancando-lhe uma discreta lĂ¡grima, suficiente para encher suas expectativas de sonhos. “Por que de tanta demora?” – fala baixinho.





Leia outros contos

A flor que nunca me deram Reviewed by Unknown on 1:01 PM Rating: 5

Nenhum comentĂ¡rio:

All Rights Reserved by Blog do Buraco © 2014 - 2015
Powered By Blogger, Designed by Sweetheme

FormulĂ¡rio de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Tecnologia do Blogger.