Top Ad unit 728 × 90

Crônicas

Crônicas
teste

O Olho Mágico












Estabanado, desajeitado, desastrado, sim este sou eu. Não que eu seja um atrapalhado compulsivo ou um pateta profissional, mas talvez minha desatenção natural aliada a alguns neurônios defeituosos contribuam para que fatos nada comuns aos ditos “normais” ocorram comigo. Toca a campainha, me levanto e caminho até a porta para abri-la, como acredito todo mundo o faz, fui espiar no olho mágico (para quem não sabe, é aquele buraquinho na porta que nos revela quem está do outro lado). Por alguma falha técnica eu errei o calculo da distância entre a porta e a minha cabeça e acertei com força o olho mágico com minha testa. Ainda meio tonto e já rindo da minha própria desgraça abri a porta para meu visitante, é claro que ele estava rindo e muito do outro lado e perguntou se estava tudo bem – querendo entender a causa daquele estrondo - eu disse a ele que ficasse tranqüilo. “Normal, volta e meia isso acontece!”. Mas nem tudo é o que parece ser...

Bem, mais uma história para contar aos amigos, sigamos em frente, pois aquele dia eu tinha um compromisso e precisava sair da toca, algo que eu não gosto muito de fazer, outra boa definição pra mim é caseiro, até demais, é comum meus amigos reclamarem que eu deveria sair mais, aproveitar a vida, coisas assim. Bem, ossos do ofício. Já estava pronto, banho tomado, barba feita, cabelos penteados, dentes escovados, perfumado, celular carregado, carteira no bolso, chave de casa na mão, opa! Faltou desligar a luz do banheiro, mais uma checada na casa pra ver se estava tudo dentro dos conformes, agora sim estava pronto para sair e encarar o mundo lá fora.

Tudo transcorria bem, cheguei pontualmente ao meu compromisso que pra variar um pouco não começou no horário marcado e durou mais que o esperado, será isso uma praxe dos compromissos com hora marcada, entrevistas de emprego, consultas médicas, visita de parentes? Ao final, já morto de fome por não ter almoçado resolvi comer alguma coisa antes de voltar pra casa e logo ali avistei um McDonalds, lembrei da promoção do copo e da coca-zero com muito gelo. Pronto minha escolha estava feita. Ao entrar reparei ser uma loja grande com varias mesas e o balcão de atendimento era do lado oposto, mas ao caminhar notei uma musica diferente no ambiente, “... o mesmo pé que dança um samba se preciso vai a luta, capoeira...” Epa! Perae! Isso é Viola enluarada! E ao vivo! Por um segundo parei e olhei ao meu redor para ver se tinha entrado no lugar certo. Estava cheio como de costume, mas quando prestei um pouco mais de atenção notei que um grupo de jovens idosos estava reunido e espalhado por várias mesas. Um senhor muito elegante e distinto com um chapéu estrategicamente colocado em sua cabeça segurava o violão entoando as melodias acompanhadas por um pandeiro enquanto uma graciosa senhora bailava por entre as mesas cantando aquelas canções de outrora. Ao fundo se ouvia um suave coral compostas por todos os integrantes daquele surreal evento.

Ainda meio sem entender o que estava acontecendo passei por entres eles e fui ao balcão fazer o meu pedido – Sinal dos tempos -- Já não entregam mais seu lanche em trinta segundos. Pedido na bandeja, mais um copo para minha coleção adquirido, fui em direção a mesa escutando “... minha casa não é minha e nem é meu este lugar, estou só e não resisto, muito tenho prá falar...” – Travessia, me arrepiei. Saboreei meu Big Mac cantarolando ao som de Trem das Onze “Não posso ficar mais nem mais um minuto com você, sinto muito amor, mas não pode ser, moro em Jaçanã...”, Delicie minhas batatinhas regendo a música -- Caminhando “... vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer...” Tomei minha coca-zero com muito gelo embriagado pela Insensatez “...vai meu coração, ouve a razão, usa só sinceridade, quem semeia vento, diz a razão, colhe sempre tempestade...”. Nossa! Aquele foi o melhor lanche que já fiz em toda minha vida no McDonalds, até o sabor era outro.

Muito a contra gosto estava na hora de voltar pra casa, levantei e educadamente peguei minha bandeja e despejei no lixo, isso mesmo gente! Pessoas educadas fazem isso! Resolvi caminhar um pouco ao invés de ir direto pra casa, aquele momento “sui generis” pedia uma reflexão e também ajudaria a queimar as calorias recém ingeridas. Quando quarenta jovens idosos resolvem se reunir, qual seria o local mais apropriado? Um local jovem claro! E que local mais jovem que o Mc Donalds? Perfeito, tá explicado, comprovado e carimbado, a idade está na alma e não na certidão de nascimento.

Mas nem tudo é como parece ser... ao entrar em casa me lembrei da testada que tinha dado na porta e olhei para o olho mágico e um filme começou a passar pela minha cabeça. As longas horas de trabalho, os convites de aniversários que não fui, aos encontros de domingo na casa da família que preferi ficar em casa, os inúmeros telefonemas dos amigos me chamando para sair – todos negados, as pedaladas em volta da lagoa que nunca mais fui. De repente você é pego tão focado naquilo e esquece que existe uma vida lá fora, e que uma vida sem experiências é como um livro com páginas em branco e talvez aquela pancada na testa tenha sido um sinal, tá na hora de colocar um olho mágico na minha vida e começar a enxergar o que tem atrás da porta da minha casa.


Se aqueles jovens idosos são da dita terceira idade, qual será a minha? A Quarta?


Informação: Não sei se rola todo dia, mas foi segunda-feira no McDonalds do Catete as 16:00 hs, imperdível!

O Olho Mágico Reviewed by Unknown on 3:33 AM Rating: 5

5 comentários:

  1. Que espetáculo é esse, hein? Maravilhosamente narrado. Dá uma tristezinha quando acaba, porque viajando na crônica a gente perde a noção de parar. Esta cena foi linda também, mas seria invisível, não fosse o seu olhar poético sobre ela. Isto faz a diferença, e distingue o poeta, ou o escritor, como queira, das pessoas comuns. Parabéns!!!!!! Marina.

    ResponderExcluir
  2. Meu amigo concordo plenamento com vc! As vezes direcionamos nosso precioso tempo a tantas outras coias(Casa, trabalho, filhos,faculdade etc) e esquecemos de viver. Por isso alguns meses estou vivendo como nunca. Saindo para uma ótima balada, conhecendo pessoas bonitas, ficando mais bonita rsrs!!Viva a vida sem pensar nas consequencias, viva a vida intesamente e sinta-se feliz!!

    Sheyla Régia

    ResponderExcluir
  3. Linda e deliciosa!!!
    Que me fez sentir saudade e água na boca...
    Adoro o BURACO!!!
    El@ine.

    ResponderExcluir
  4. Olá, Ricardo. Na verdade, acontece mesmo da gente ficar meio sumido de vez em quando. Às vezes, até a gente se vê muito pouco, sabe. Mas que bom que bom que o "olho mágico" te fez se ver um tantinho neste dia.

    Beijos,
    F.

    ResponderExcluir
  5. Gostei muito desse texto, pois nos mostra simplesmente que a vida nao para, o mundo vive em constante movimento, e se a gente fica muito tempo parado, quando vê, a banda passou e a gente não dançou! Claro, que existem momentos que a gente quer ficar sozinho, em casa, pensativo, nua boa.
    Mas existem "momentos" e não tomar isso como filosofia de vida, né!
    "Vamos viver tudo o que há pra viver, vamos nos permitir."
    Abraço terno Ricardo!
    Sol :)

    ResponderExcluir

All Rights Reserved by Blog do Buraco © 2014 - 2015
Powered By Blogger, Designed by Sweetheme

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Tecnologia do Blogger.